O termo “Educação Ambiental” foi citado, em inglês (Environmental Education), pela primeira vez, em 1965, na Conferência de Educação da Universidade de Keele, na Grã-Bretanha. Somente nove anos depois, no ano de 1974, foram registrados os primeiros Programas de Educação Ambiental, nos Estados Unidos da América. Em 1975, a UNESCO e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) desenvolveram o Programa Internacional de Educação Ambiental, definindo ferramentas e orientações para execução de programas de educação ambiental em escala internacional.
No Brasil, a Educação Ambiental começou a ser introduzida a partir da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), conhecida como Rio-92, ocasião em que fora criado o Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis. Entretanto, a Educação Ambiental só passou a fazer parte do arcabouço legal a partir da promulgação da Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999, sete anos após a Rio-92 e trinta e quatro anos após o surgimento da expressão.
Não obstante a expressão seja específica para questões ambientais, a Educação Ambiental, assim como outras esferas da educação, deve ser entendida e desenvolvida como uma ferramenta transformadora. Particularmente, a educação ambiental demanda ser desenvolvida integrada com outras diversas áreas do conhecimento, de forma crítica e holística, fundamentada sobre princípios éticos e morais sólidos. Nesse contexto, talvez essa seja uma das expressões da educação mais complexas de serem aplicadas com resultados satisfatórios a médio prazo, visto que atestar a sua eficácia depende do entendimento gradativo e processual de diversos conceitos que perpassam diferentes contextos socioeconômicos, históricos e demográficos.
Assim como outros espectros da educação, a Educação Ambiental enfrenta uma série de barreiras a serem transpassadas para sua efetiva implementação e para que efeitos positivos sejam observados. Os inúmeros desafios a serem vencidos têm origens diversas, contudo, é perceptível que os principais estão associados a questões históricas, sociais, políticas e culturais. Como implantar com efeitos mensuráveis a Educação Ambiental, ferramenta concebida apenas duzentos e cinco anos após o início da Revolução Industrial, uma das principais causas da degradação ambiental mundial? Como executar a Educação ambiental com efeitos em uma sociedade capitalista, “negacionista” e predominantemente egocêntrica, na qual o Ter tem valido mais que o Ser, em face ao consumo exagerado e irresponsável? Como educar ambientalmente uma população que carece de boas condições de trabalho, saúde, alimentação, educação e saneamento básico? Sobrepor a educação ambiental não seria um privilégio imposto pelo capital diante das lutas diárias pela sobrevivência das populações vulneráveis? Como garantir a execução de Programas de Educação Ambiental de forma efetiva em um ambiente de atraso político, o qual perece dia a dia na busca por anseios escusos e responde às demandas do capitalismo sem observar as limitações das estruturas ambientais? Como transformar, por meio da Educação Ambiental uma sociedade arraigada de costumes predatórios e ambientalmente violentos?
Além desses entraves, um outro fator que precisa de solução para que ações de educação ambiental surta efeitos e que perpassam por todas as nuances de dificuldades associadas ao processo são as fake news, ou Informações Falsas. Cabe ressaltar que há de se fazer distinção entre o debate e divergências de opiniões das informações conhecidamente falsas, potencializadas pela diversidade de canais de comunicação e interação existentes. As informações falsas têm ganhado cada vez mais força nas relações sociais, não por menos sendo chamadas de “O mal do Século 21”. No “território” das fake news, os objetivos e anseios de grupos de maior poderio econômico, grupos produtivos e grupos formadores de massa, geralmente destoados do uso consciente de recursos naturais e humanos e da prevenção da poluição, ganham força para a parcela da sociedade que considera o fortalecimento econômico como algo irrestrito e inegociável, seja por carência de senso crítico, seja por falta de visão sistêmica, seja pelo egocentrismo, seja por sua índole ou seja por falta de pilares éticos e morais consistentes.
O poder das informações falsas na sociedade é, de fato, presente e intenso. Ora, existem pessoas que acreditam que o planeta Terra seja plano, não importando as inúmeras de imagens de satélite e vídeos feitos do espaço. Considerando que, mesmo para situações comprovadas, existem “dúvidas” geradas por informações falsas, livremente compartilhadas nas redes sociais, o que há de se esperar para situações teóricas, hipotéticas, estimadas ou oriundas de análises estatísticas de dados? Esse é um dos questionamentos que fazem parte da busca pelo método ideal para implementação da Educação Ambiental que de fato possa contribuir para a regeneração do meio ambiente.
De certo, a Educação Ambiental torna-se algo de difícil implementação para a maior parte da população, contudo, não há espaço para a desistência. Primeiro, há ainda uma grande parcela da população interessada nas questões ambientais consciente da importância da regeneração, preservação e da conservação ambiental para a perenidade do planeta em condições habitáveis e saudáveis. Segundo, desistir de implementar a Educação Ambiental é desistir da humanidade. Nesse contexto, é imprescindível que haja um forte combate às fake news, aliado ao fortalecimento da disseminação permanente e obrigatória da cultura da Educação Ambiental, em toda a sociedade, principalmente para as novas gerações, com todas as técnicas disponíveis e em todos os espaços possíveis, como por exemplo, em instituições de ensino, empresas, equipamentos de cultura e lazer e espaços públicos, minimamente para transformar as pessoas em seres ecologicamente e criticamente pensantes e atuantes. Somente assim será possível vencer a batalha contra os entraves ao desenvolvimento sustentável reforçados pela liberdade de transmissão de informações falsas.
Autor
Luiz Felipe Tavares – Gerente Ambiental do Grupo GVC
Com a colaboração de Tarsilla Amaral e Caroline Santos Ribeiro.